Preservação de fertilidade em câncer ginecológico. É possível?

 

             Pode parecer um assunto futurista, mas pacientes que têm câncer no ovário, útero e até no endométrio podem vir a ter filhos depois do tratamento, se quiserem. Tratam-se de técnicas cirúrgicas pouco difundidas no Brasil, existentes há mais de uma década no mundo todo, com eficácia comprovada.

             “A preservação de fertilidade acontece nos três principais cânceres pélvicos femininos – os de colo uterino, endométrio e ovário. São tratamentos cirúrgicos que possuem eficácia e segurança para câncer que possibilitam gravidez no futuro, não comprometendo o prognóstico da paciente e taxas de cura”, diz Dr. José Carlos Sadalla, ginecologista, mastologista e oncologista, que faz esse tipo de cirurgia há mais de cinco anos.

             E como é realizado esse procedimento cirúrgico? Segundo o cirurgião é realizado de maneiras diferentes em cada tipo de câncer. “Se o câncer acontecer no colo do útero, dependendo do estadiamento – grau em que está a doença no corpo da paciente – é possível retirar o colo uterino, preservando o corpo uterino, as trompas e ovários. Dependendo do caso, também se retiram gânglios pélvicos e estruturas próximas ao colo uterino, como paramétrios e parte da vagina, como margem de segurança, já que a gravidez se desenvolve no corpo uterino”, explica o cirurgião.

             Quando acontecer no endométrio, é possível preservar o útero, trompa e ovários, dependendo do estadiamento do câncer. “A cirurgia consiste em realizar a retirada do endométrio doente e colocar um DIU – dispositivo intrauterino – com progesterona. Já no ovário, também depende do estadiamento do câncer”, diz.  Na cirurgia, é possível retirar o ovário doente, junto com gânglios e omento – gordura que recobre o intestino -, preservando o outro ovário e o útero.

  Desconhecimento

             É importante ressaltar que não é todo caso que a preservação da fertilidade é possível. “Vai sempre depender do estadiamento do câncer. Infelizmente, estas cirurgias são pouco indicadas no Brasil por desconhecimento e complexidade dos procedimentos”, esclarece o médico.

             Vale ressaltar também que estas técnicas são seguras quando bem indicadas e no estadiamento correto. “Se houver tratamento quimioterápico pós-cirurgia, a preservação de fertilidade só será feita – e sempre com a paciente sendo soberana sobre esta decisão – se não comprometer o seu organismo ou do bebê que ela poderá vir a gerar. O apoio familiar é fundamental nestes casos”, continua Dr. Sadalla.

 

   Casos de sucesso

             Entre as pacientes que optaram pela preservação de fertilidade durante a cirurgia de câncer, quase todas estão sem doença até agora. “Condiz com os dados da literatura que temos acesso. É preciso sempre lembrar que, no tratamento padrão, também pode acontecer a recidiva do câncer. De todas as que se submeteram à preservação de fertilidade, apenas uma pequena parte delas engravidou. E isto ocorreu porque simplesmente não tentaram engravidar. A paciente quer ter a opção de gravidez no futuro, não abdicando do desejo de ser mãe, mais do que um desejo de engravidar no momento do diagnóstico de câncer. Das que tentaram, a maioria conseguiu ter filhos”, diz o oncologista.

             E finaliza: “A grande vantagem da preservação de fertilidade está na possibilidade da gravidez no futuro, sem comprometer o prognóstico do câncer. Cada paciente tem um conceito próprio. Poder optar em ser mãe e descobrir a doçura da maternidade pode se tornar uma força a mais para encarar a doença”.